O Grupo Folclórico da Corredoura transformou o seu festival: vestiu-o com as cores do mundo, acolhendo outras culturas e grupos, abrangendo vários continentes, encobriu o seu regionalismo e a característica de acontecimento local.
Nasceu por entre campos agrícolas, que ceifados do seu milho, a maior cultura agrícola, ali para as bandas da Quinta de Lumbela, no lugar da Corredoura – se tornou no seu palco principal – na freguesia de São Torcato que se quis afirmar como a planície do folclore vimaranense.
Foi, poucos anos depois da sua fundação em 1956, e por uma rivalidade com o vizinho Grupo Folclórico de São Torcato – que já tinha o seu festival – que o grupo da Corredoura fez perdurar a sua marca enquanto grupo de folclore.
Sem fama nem glória, o festival folclórico mantinha-se mas faltava-lhe projecção por se tratar de um evento muito localizado e ao nível de lugar numa freguesia.
Ano após ano, as dificuldades eram as mesmas, o número de grupos participantes não passava da meia dúzia, o internacionalismo que ao lado se ia afirmando, era também tímido e a presença de grupos espanhóis era a mais fácil e a mais económica. O recurso foi a chamada de grupos portugueses sediados na comunidade emigrante, em França. E a filiação no Inatel (ex-Fnac) de que resultaram algumas trocas com outros grupos.
O festival casou-se com as festas da Corredoura – outro sinal do bairrismo que se exaltava em São Torcato – hoje já ultrapassado e menos alimentado pela gente jovem. Realizando-se em Agosto, era uma forma de dar vida ao orgulho de alguns emigrantes que vindos de terras de França, suportavam a tradição daquele lugar.
Esta rotina cansou os dirigentes do grupo que tinham, entretanto, no Linhal o estímulo necessário para aguentar não apenas as tradições agrícolas como a existência do grupo.
Até que por ocasião da Capital Europeia da Cultura, em 2012, o Grupo Folclórico da Corredoura actua no largo defronte do Palácio da Justiça, realizando ali o seu festival. Abriu as portas a um novo conceito e a uma mistura de dança tradicional folclórica com a dança contemporânea, não desfigurando nem o regionalismo nem a essência etnográfica das danças e cantares do seu repertório.
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A oportunidade para sulcar novos caminhos não foi perdida. E muito menos desperdiçada, pois, foi a janela (de oportunidade) que Henrique Macedo, entretanto, chegado à presidência da direcção do Grupo – onde também dança – escancarou, agregando o folclore corredourense ao parceiro oficial da UNESCO – CIOFF – uma organização internacional com o estatuto de Conselho Internacional das Organizações de Folclore e de Artes.
Esta aposta e ligação a uma prestigiada organização de festivais do mundo e parceira da UNESCO para o Folclore e do Folk Art acabou por projectar o grupo no contexto internacional, fazendo-o viajar pelo mundo marcando presença em eventos que o CIOFF ia promovendo em diversos países e continentes.
O festival folclórico da Corredoura não morreu mas transformou-se e ganhou uma roupagem mais internacional associada ao Folk Art que lhe dá outra maturidade no contexto da cultura folclórica mundial. O folclore e as danças e cantares associadas à tradição minhota e portuguesa não foram postas de parte mas serviram de cruzamento para eventos mais atractivos do ponto de vista da imagem e coreografia do espectáculo.
O grupo da Corredoura passou a adoptar o conceito do Fest’in Folk – a que outros grupos portugueses já se tinham associado, pela influência provocada pela adesão ao CIOFF – com delegação em Portugal – e que deu nova vida ao festival da Corredoura.
“O conceito do Fest’in Folk é a partilha da cultura e das tradições entre os povos e países, de vários continentes.”
Henrique Macedo não se mostra arrependido desta decisão porque “o conceito do Fest’in Folk é a partilha da cultura e das tradições entre os povos e países, de vários continentes, que estão juntos da UNESCO a defender as suas raízes”. E justifica que “as danças e cantares do folclore não se desvirtuam, apenas ganharam nova dimensão, num contexto mundial”. O festival da Corredoura, mantém a sua perenidade: é tradicional, é vivo e entrelaça-se com outras culturas, de outros povos.
O conceito é agora, mais abrangente e mais inclusivo dos grupos que, ano após ano, participam no certame, com mais dias de duração, diversificado e partilhado. Europa, Ásia, África são três dos continentes que já trouxeram a Guimarães as suas danças e cantares.
Para além do espectáculo propriamente dito que evidencia as danças de cada grupo participante no festival, acrescem exibições que o ambiente urbano de uma cidade polariza e potencia, deixando espaços a momentos diferentes.
É este caminho que o festival da Corredoura trilha, há nove anos, desde 2013, lutando para ser reconhecido como um evento certificado pelo CIOFF. A opção pela cidade, pelas suas praças e largos, pelo campo de São Mamede com o Castelo como pano de fundo, teve o efeito de um postal que se envia pelos correios para todo o mundo.
“Faz todo o sentido que o Fest’in Folk se realize na cidade.”
O evento ganhou maior dimensão cultural, tem agora mais público – incluindo turistas – a assistir aos seus espectáculos, e uma vertente internacional acentuada porque se abriu a outras culturas, de vários continentes. “Faz todo o sentido que o Fest’in Folk se realize na cidade” – defende Henrique Macedo, mostrando satisfação pelos resultados obtidos com esta opção.
O festival alargou a sua base de apoio, com parcerias mais robustas e financeiramente maiores, com a Câmara Municipal a reconhecer este evento como um cartaz de qualidade. A cidade também proporcionou alojamento para os grupos vindos do estrangeiro, que se radicaram por aqui durante mais de uma semana. Por outro lado, o Grupo Folclórico da Corredoura ajudou a enriquecer o programa de festas dos concelhos da CIM do Ave, como Fafe e Cabeceiras de Basto, por exemplo, onde os grupos estrangeiros participam.
O orçamento do Fest’in Folk passa a contar com esta ajuda, uma vez que só assim seria possível suportar os 25 mil euros do seu orçamento, dos quais seis mil são subsídio do Município de Guimarães. Porém, o Fest’in Folk é, no entender do presidente do grupo da Corredoura, “o festival que a cidade e Guimarães precisava, pela sua dimensão e qualidade”, acentuando o cosmopolitismo da urbe histórica, visitada por inúmeros cidadãos do mundo.
Acredita que, em breve, o festival será certificado pelo CIOFF e pela UNESCO, depois da avaliação feita, durante cerca de três anos, à sua organização segundo parâmetros bem definidos. “Penso que vamos no bom caminho” – salienta.
Quando isso acontecer, o Fest’in Folk passará a fazer parte de uma agenda de 60 festivais internacionais que são promovidos no mundo, com a chancela do CIOFF. “É essa mais valia que vamos trazer para o folclore vimaranense e dar a Guimarães um festival de dimensão internacional, mais um cartaz para o turismo concelhio” – acredita Henrique Macedo.
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O Grupo Folclórico da Corredoura, alardeia já o estatuto de ser o único grupo vimaranense a ser membro do Conselho Internacional das Organizações de Folclore e de Artes (CIOFF), o parceiro oficial da UNESCO para o Folclore e o Folk Art. Entretanto, o grupo da Corredoura pretende repor a importância do Linhal – a festa que exalta o ciclo do linho. E ter um espaço próprio e definitivo para esta actividade é condição para repor também a qualidade cultural deste evento.
“Tentaremos nesse espaço, mostrar como a festa do ciclo do linho tem ainda mais virtualidades” – ambiciona o presidente do Grupo Folclórico da Corredoura. Por certo, a ideia é evitar alguns actos que cansam por o evento se realizar em locais menos apropriados à sua dimensão. Com a nova vida que se pretende dar ao Linhal é a iniciativa que se revitaliza.
As alterações passam pela mudança, a título definitivo, para o parque de lazer da Corredoura, onde se instalará o moinho de linho, uma atracção desta festa. Poderá acontecer que neste local, o ciclo do linho se exponha durante mais tempo, à tarde e à noite, associando outro evento como o A’Linho – iniciativa a que se alia a Tempo Livre e a ADCL e o pessoal sénior de quem trata, para além das escolas, num esforço de ilustrar algumas tarefas do linho como exercícios físicos.
Henrique Macedo confia que a Junta de Freguesia e a Câmara estarão de acordo com a utilização do parque de lazer para o ciclo do linho, aumentando o seu potencial uso e dinamização com esta ajuda. “Podemos inovar na forma como festejamos o ciclo do Linho, tentando incutir-lhe alguma contemporaneidade. O Folclore tem ficado muito parado no que era lá trás e há sempre formas de fazê-lo reviver sem alterar a sua essência” – acredita o presidente corredourense.
Com estes dois cartazes, Fest’in Folk e Linhal, o Grupo Folclórico da Corredoura concentra toda a sua actividade, fazendo também do aniversário do grupo, uma terceira actividade com impacto no meio, a que se junta ainda ao encontro de Reis, na quadra natalícia.
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Porém, enquanto associação cultural, o Grupo da Corredoura aprofunda novas experiências na dança. E novas incursões capaz de cruzar o folclore e as suas danças e cantares com novas expressões de dança contemporânea, “uma forma de não ficar preso no tempo” – realça o presidente. Para acentuar esta forma de abordagem, tendo em vista conquistar novos públicos, o Grupo da Corredoura tem sabido dar as mãos e abrir-se com novas parcerias ao fascinante mundo da música e da dança.
Com a Sociedade Musical e com a Academia de Bailado de Guimarães, “O Velho diz que morre” deu lugar a um espectáculo, apresentado no Teatro Jordão, em que o cruzamento do folclore e da dança contemporânea, justifica o projecto e as parcerias. “Chamámos até nós, pessoas com melhores conhecimentos na música clássica e na dança, para reviver uma das danças “O Velho”, envolvendo neste projecto outras instituições e associações com resultados positivos na criação de novas propostas culturais” – reitera.
Era um projecto de 2020 que a pandemia adiou e que pode, depois da experiência feita, replicar-se noutra dimensão mas com o mesmo propósito de fazer diferente na cultura. O resultado de criar um espectáculo com uma dança do grupo e com uma orquestração de músicos da Sociedade Musical, dirigidos por Pedro Lima, coreografados por Maria R. Soares da Academia de Música e Bailado de Guimarães e com os componentes do folclore da Corredoura, pôs toda a gente a dançar e a cantar.
“Temos de fazer coisas diferentes para não deixar esquecer o passado da nossa cultura folclórica.”
A experiência acumulada de juntar pessoas qualificadas na música, já começou em 2012 e vem-se repetindo como aconteceu, há pouco, com a comemorações dos 10 anos da CEC num espectáculo com a Orquestra de Guimarães. “Temos de fazer coisas diferentes para não deixar esquecer o passado da nossa cultura folclórica, com abordagens mais modernas e que sejam do agrado do público” – defende Henrique Macedo, apostado em manter o Grupo Folclórico da Corredoura neste registo com as quais tem afirmado a sua vitalidade nos últimos 10 anos.
A mesma experiência tem-se vindo a repetir no Fest’in Folk, anualmente, em que músicos de todos os grupos e dos vários países se juntam e formam uma orquestra que se exibe durante o festival de folclore. “É um espectáculo inédito que junta 120 pessoas em palco, com músicas compostas e arranjos feitos em escassos dias” – salienta Henrique Macedo.
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