O Vitória está a viver o seu grande cisma, desde 14 de Fevereiro, quando um multimilionário aceitou ser accionista minoritário, num clube de média dimensão europeia e com potencial de crescimento como nunca se viu.
O anúncio estampado no sítio da internet do clube, a meio de Fevereiro, suscitou reacções diversas entre os sócios e a comunidade vitoriana.
Começou, então, uma viagem do passado ao futuro, com críticos acérrimos sobre uma solução em que não votam, outros a surgirem das cinzas – mas não como Fénix renascida – evidenciando, uma vez mais, o seu “ego” maior que o tamanho vitoriano. E os que viram mais à frente e olhando para o futuro, uma oportunidade de ouro para colocar, finalmente, o Vitória no bom caminho, depois de muitas tentativas falhadas e de fachada implementadas no passado recente.
Os vitorianos, com poder de voto, sujeitaram-se a ouvirem um conjunto e vasto leque de opiniões, de quem do lado de fora encara o negócio de venda de uma parte minoritária do capital social.
Com paciência de Job, António Miguel Cardoso e os dirigentes do clube, mostraram uma paz olímpica para iniciarem a discussão pública de um assunto por demais importante para ser analisado através de um simples sim ou de um não.
A direcção não se escusou a debates e encontros frente a frente com os sócios, a entrevistas nos órgãos de comunicação social, sempre numa postura elevada, o que tornou a informação vertida fidedigna e clara, mesmo quando as maiores dúvidas foram colocadas.
Depressa alguns cépticos e críticos, consideraram o negócio “à vitorinha”, num apoucamento do clube e dos que deram a cara por ele. E que tiveram a coragem de o colocar como uma solução credível para os problemas do Vitória, com perspectivas de futuro, muito maiores do que as versões redutoras apresentadas por quem vê as soluções para o clube também como soluções para os seus problemas pessoais.
Um facto curioso, desta discussão, é que ela foi feita sem tabus e entrou na agenda vitoriana sem traumas e sem tramas. Mais uma vez se provou de que, afinal, no Vitória se pode discutir e opinar sem medos e com civilidade. Porque o clube é dos sócios e não de nenhuma clique, claque ou dirigente histórico. E também um património da cidade e do concelho.
Não foi preciso “berrar” para se conhecerem os parâmetros do negócio, todos tiveram a palavra para defenderem as suas ideias, dizendo o que pensam com sinceridade. E com verdade.
Ninguém foi silenciado nem impedido de dizer se está a favor, contra ou ainda tem dúvidas. A transparência do negócio e a sua discussão, foi também um momento alto da democracia interna que se tende a acentuar, deixando que tudo seja tratado em cima da mesa e de forma clara, o que não era bem o método defendido noutros tempos, com truques e cenas de teatro que distraíram os sócios do seu poder de decidir esclarecidos.
Na discussão, foram vários os cenários que se levantaram, evidenciando o maior interesse dos sócios pelos assuntos que a todos cabe decidir. Do preço, uns entenderam-no como barato porque é fácil – fora da mesa das negociações – pedir 10, 100 ou 1000 vezes mais.
Outros “desconfiaram” do facto de um multi-milionário aceitar ter uma posição minoritário no clube, ao jeito de quando “a esmola é grande até o pobre desconfia”.
Ora, a tendência do momento, no futebol europeu é a de os clubes abrirem o seu capital a grandes investidores. Basta ver o que se passa no futebol espanhol e na Europa do futebol, em que o fenómeno dos clubes híbridos – clubes apoiados por investidores minoritários se acentua.
Aliás, as alterações apresentadas pelo Governo português sobre o regime jurídico das sociedades desportivas, vai nesse sentido. A proposta e as ideias gerais dessa alteração foram aprovadas no Conselho de Ministros de 13 de Janeiro e vão nesse caminho, tendo em que conta que “20% das sociedades anónimas desportivas, até hoje constituídas, estão a caminho da extinção, insolvência ou dissolução”.
Também, do ponto de vista económico, o negócio foi enquadrado e analisado à luz da sua perspectiva futura e da actual situação económica-financeira do Vitória.
Curiosamente, toda esta discussão só avançou porque foram garantidas pela direcção e aceites pelo investidor, condições essenciais que deixam os sócios enquanto clube, maioritários na sociedade desportiva sem necessidade de abdicar da maioria do capital, da maioria na administração.
Do acordo constam ainda dois milhões de euros para investimento em infra-estruturas nos equipamentos do clube. E o acesso a uma linha de crédito – que nunca ninguém conseguiu no mercado financeiro – o que abre a possibilidade de uma almofada financeira que visa a valorização do plantel, coisa sempre controversa e desmontada pelo plantel actual que tem o 5º lugar à mercê com o menor custo possível ao contrário de muitos milhões que foram gastos no passado e não deram mais do que o 6º lugar e a possibilidade de o Vitória entrar no quadro de competições da UEFA, sempre à boleia.
Há no pré-acordo, potencialidades futuras, ao nível de parcerias e da entrada em rede, via Aston Villa, um clube inglês em que o futuro parceiro do Vitória está envolvido.
Desde o facto de o egípcio Nassef Sawiris ter uma posição forte na marca ADIDAS, o clube inglês ter uma rede de scouting bem mais alargada do que dois ou três olheiros, estas são mais valias a explorar.
O Vitória tem no horizonte a possibilidade de, finalmente, deixar a sua matriz de clube local, regional e nacional para entrar num patamar mais europeu e com uma organização mais competente e profissional.
Graças à participação dos sócios e às questões colocadas na sua discussão e à abertura da direcção ao contemplá-las foi possível alterar o pré-acordo existente, de modo a, por exemplo, na garantia das condições do empréstimo, deixar de ter parte do capital social do Vitória – representado pelas suas acções – substituídas por receitas correntes da bilheteira, quotas dos sócios e rendas.
Apesar destas questões, levantadas em sede de discussão, podem ficar algumas dúvidas que só o futuro e a implementação do acordo podem esclarecer. O Vitória clube tem um PER – Programa Especial de Recuperação para cumprir – e a Vitória SAD um valor a pagar a Mário Ferreira pela venda das suas acções.
O acordo deixa no ar, a possibilidade de o Vitória poder beneficiar de ventos mais favoráveis para a sua viagem, em modo de navegação aérea, retomando receitas que foram esvaziadas por antecipação para pagar uma gestão duvidosa. Como as receitas de TV e esperar por valores mais altos para arrecadar.
Também implicitamente, o acordo pode revelar a natureza e intenção dos novos parceiros do Vitória, desde o accionista Nassef Sawiris ao empresário Jorge Mendes que pode vir a ser um apoio forte aos negócios de maior dimensão do clube.
Como novo accionista, o egípcio também adquiriu 46% do passivo, o que pode permitir arranjar novas soluções para o financiamento do clube/SAD.
A caminho da sustentabilidade é o que se espera do projecto que resultará desta parceria, e com as soluções encontradas no passado recente. Nem sempre é com muito dinheiro que se resolvem os problemas mas com métodos de gestão eficazes.
O passado recente – e presente – da gestão vitoriana deu resultados positivos: a recuperação do prestígio e credibilidade do clube, a de que com menos se pode fazer mais, a quebra de tabus e de ideias feitas, foram contrariados pelo labor dos jogadores e técnicos que estão à beira de manter o estatuto europeu do clube, começando do zero.
Os sócios têm a última palavra, hoje, à noite na assembleia geral que decidirá sobre este negócio e sobre o futuro do clube.
António Miguel Cardoso já disse não estar obcecado com a decisão que os sócios vierem a tomar. E mostrou-se pronto a trilhar “o caminho das pedras” numa postura de humildade que muito contrasta com a daqueles que vivem com a sua permanência no passado, como se o Vitória pudesse viver de recordações…
Por isso, o actual acordo será sempre bem melhor do que nenhum acordo ou até com falsas esperanças trazidas pelos que se pavoneiam com “o passeio da fama” que o VSC experimentou no seu tempo.
Há, naturalmente, muito mais Vitória pela frente, um novo devir onde não cabem os que julgam que têm poder para ressuscitar como se fossem Jesus Cristo ou filhos de Deus.
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