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Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Rita Miranda Pereira
Rita Miranda Pereira
Licenciada em Estudos Culturais pela UMinho e Università Degli Studi di Firenze (Florença) tem mestrado em Património Cultural. Foi Jovem Embaixadora da Cidade de Guimarães no "II Encontro de Jovens Embaixadores do Património da Humanidade" em Ibiza (Espanha-2019) tendo sido nomeada para apresentar as conclusões deste mesmo Encontro no "15º World Congress of the OWHC" em Cracóvia (Polónia). Foi um dos membros da Bolsa de Facilitadores do Plano Municipal para a Juventude de Guimarães (integra desde 2019). É presidente da Associação Move.T+ e gestora de projetos culturais do Círculo de Arte e Recreio.

Acessibilidade Cultural: realidade ou utopia?

Findado mais um GUIdance, permitam-me discordar do cliché “os gostos não se discutem”, ainda que não seja esse o enfoque da reflexão que aqui pretendo ter.

Vejo-me como uma pessoa com sensibilidade artística (seja o que for que isso queira dizer), porém dei por mim a sair de alguns espetáculos do GUIdance 2022 com uma sensação de vazio mental (perdoem-me a ironia).

Note-se desde já que, não pretendo fazer uma crítica generalizada ao festival, mas apenas questionar o conceito de acessibilidade associado ao mesmo, que acredito refletir o conceito de “Acesso à Cultura” de modo geral.

Há muito que acredito que o acesso à cultura – ou a falta dele – não se justifica, exclusivamente, por questões financeiras, mas também por uma sensação de elitismo a que a “Cultura” muitas vezes se deixa associar.

Efetivamente, aquilo que senti enquanto assistia a alguns dos espetáculos, foi um total sentimento de desenquadramento e de perplexidade perante o abstrato; aquele abstrato! Poderia até atribuir a minha momentânea incapacidade para interpretar o referido “abstrato” a uma relativa imaturidade, considerando os meus 25 anos; porém, essa parece-me que seria uma visão demasiado redutora e até confortável.

A verdade é que, terminada a reação inicial de total sarcasmo, surge a reflexão inevitável: afinal a quem se destina alguma da produção artística que se vai fazendo? Escrevo a propósito do GUIdance, mas poderia estar a levantar estas mesmas questões a propósito de uma exposição num museu ou de uma qualquer instalação.

O espetador sente-se abandonado à sua sorte perante o abstrato.

Não há, frequentemente, uma contextualização que nos dê alguma informação inteligível sobre a obra ou performance que se nos depara. O espetador sente-se abandonado à sua sorte perante o abstrato.

Tudo isto me parece dirigir-se a um nicho muito restrito de pessoas, no qual não se inclui a grande maioria da população ou o “público em geral”. Não se julgue, no entanto, que sugiro qualquer censura à liberdade artística dos criativos; tampouco uma abordagem infantil e puramente popular (ou comercial) da cultura, menorizando o público como se de crianças se tratasse.

Porém, pensar em alargar o leque, alargar o público-alvo, parece-me um ótimo começo. Talvez seja chegado o momento de os agentes culturais fazerem eles próprios uma reflexão profunda sobre “quem está verdadeiramente a ouvir as suas mensagens”.

Segundo dados do Eurobarómetro de 2013, Portugal é dos países da União Europeia com menor taxa de participação cultural, o que se confirma com o mais recente estudo da fundação Calouste Gulbenkian e do Instituto de Ciências Sociais.

Estes estudos levam a uma mesma conclusão: há uma mudança que precisa de acontecer para contrariar esta tendência, que se agravou ainda mais nos últimos dois anos pelos constrangimentos provocados pela pandemia.

Retomando o enfoque inicial, e em jeito de conclusão, orgulho-me da dimensão e variedade de oferta cultural da cidade de Guimarães mas a verdade é que, 10 anos passados da Capital Europeia da Cultura, não senti que “todos fazemos parte”.

© 2022 Guimarães, agora!


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1 COMMENT

  1. É na verdade uma grande falha em Guimarães.
    Já o mesmo aconteceu com a Plataforma das Artes, situado no antigo local do mercado.
    Criou-se aí uma exposição, e pronto, está tudo feito, os clientes ou frequentadores , farão o resto ?
    Não, não será assim.
    OP publico que vai ver uma exposição, fica ou não satisfeito, e, na generalidade só vai ver uma ou, no muito, por falta de outra coisa, duas vezes.
    Na devida altura eu dei uma simples sugestão, variar os espetáculos, criar mais interesse aos frequentadores, se hoje vem um espetáculo, daqui a 8 dias já irá ver outra coisa diferente, outro espetáculo diferente.
    Já várias pessoas comentaram na imprensa local ou fora dela, que se criou aí um mamarracho que só dá despesas e prejuízos por falta de visitantes.
    Falta de imaginação ? talvez mas também falta de gente capaz, nos respetivos sectores.

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