Terminou mais um ciclo na Irmandade de São Torcato e de um Juíz – Paulo Novais; segue-se novo ciclo na instituição e um novo Juíz – Ricardo Freitas.
Nesta sucessão quase familiar e quase monástica, foi marcada por uma transmissão de funções, de uns para outros, numa renovação de pais para filhos que acentua a normalidade de uma Irmandade católica mas a chegar-se à sociedade civil – e quase a depender dela, tais são os apelos à ordem política para apoiar São Torcato, como referiu o novo Juíz, Ricardo Freitas, esperançado que alguma coisa se resolva na Assembleia da República, tal o pedido feito aos deputados da região, também presentes nesta passagem de testemunho.
Paulo Novais terminou o seu ciclo com uma inauguração – a de colocar ao serviço do Centro Social da própria Irmandade de um espaço para Centro de Dia, com uma sala multiusos para eventos. O edifício que se localiza a norte do Lago, num parque onde já foi implantado um jardim infantil, muda de funções, deixando de estar ao serviço de entidades terceiras e como fonte de rendimento, para abrigar uma valência social.
Com o fim do seu mandato, Paulo Novais também congratulou e distinguiu funcionários e irmãos do Santo, com diplomas de Irmão Honorário e Benfeitor, como Juíz da Mesa Administrativa.
E deixou o seu testamento de coisas feitas que ficam para a história da Irmandade, de São Torcato (vila e freguesia), depois de ter iniciado funções em 2016.
Lembrou que, então, “nada prometi porque nunca o fiz na minha vida”, referindo-se a realizações materiais mas apenas se comprometeu com valores: “honestidade, imaginação, empenho e felicidade em trabalhar em prol do Santo do Povo – São Torcato”.
E fê-lo porque “ser Irmão do Santo do Povo, não é, nem nunca foi, uma escolha arbitrária nem sequer um acaso, é um sentimento muito profundo de quem sente um eco secular de algo que não conseguimos racionalmente explicar, um Bispo Mártir que se sacrificou por todos nós, é o legado dos nossos antepassados e o chamamento desta devoção intemporal”.
“As dificuldades, as tormentas deste caminho só deram mais força para seguir em frente.”
Mas não escondeu o que fez, à frente de uma Mesa, com os seus colegas mesários. “O que alcançámos deve-se a muito trabalho, dedicação, resiliência e (mas também) muita ambição… nada nem ninguém nos fez desistir, pelo contrário as dificuldades, as tormentas deste caminho só deram mais força para seguir em frente. Porque este era o caminho certo” – defendeu.
Elencou, uma a uma, “as etapas mais representativas do nosso caminho”, algumas materiais, destacando a afirmação do Centro Social como “referência no concelho” com “um terreno de 3000m2 para a sua expansão; a requalificação da Capela e espaço envolvente da Fonte do Santo, o parque infantil e outros equipamentos que estão ao serviço da comunidade”.
Destacou, merecidamente, a edição de dois livros sobre ‘São Torcato – Romaria a um Vale Infindável e História, Devoção e Património’, exemplos de Investigação Histórica e Científica e Análise Documental sobre o Santo do Povo.
E relevou a revitalização da Romaria Grande e de outras festas da freguesia com epicentro no culto e na influência de São Torcato.
Nesta área deixa, em curso, as bases para outros projectos no domínio do intangível como a inventariação da Romaria a São Torcato.
Como coroa de glória – e de natural orgulho – lembrou o 27 de Fevereiro de 2020, o dia de São Torcato, em que se realizou a cerimónia de elevação do Santuário de São Torcato a Basílica Menor.
Paulo Novais, despediu-se da função de Juíz da Mesa da Irmandade de São Torcato, citando Friedrich Nietzsche e Mark Weber para justificar “o que fizemos” e defender o seu legado, algo que representa o alcançado e “o possível” quando tentou, repetidamente, “o impossível”.
Disse ter consolidado “as diferentes dimensões do legado que recebemos, abrimos e rasgamos novos horizontes e novas dimensões deste nosso legado que vos entregamos como é nosso dever” – concluiu.
Uma manhã de afectos…
Começou cedo, às 09h30 quando o novo Centro de Dia, se abriu depois da remodelação. Uma sala estava reservada para recordar a memória do ex-mesário Armindo Carvalho, recentemente falecido.
Um afecto sentido para “um homem bom” como disse o presidente da Câmara, Domingos Bragança. E no qual “inspiramos, na sua generosidade e no esforço feito para que a sua terra pudesse ser desenvolvida”.
E uma homenagem “justa” que foca “a felicidade do seu legado”, salientou ainda.
Sobre o novo espaço “necessário para o convívio dos idosos”, reforçou a ideia de que “a interacção com a natureza é uma característica da nova geração de equipamentos sociais, uma aposta que acrescenta uma mais valia ao Lar de São Torcato”.
Dom José Cordeiro, Arcebispo Primaz de Braga destacou “a passagem de testemunho serena” na Irmandade, uma casa onde confluem “os 4 C’s – do culto, da cultura, da catequese e da caridade”.
E deseja que assim continue pois a Irmandade de São Torcato “é uma das mais activas no território” e onde “sem memória, não há esperança”, referindo-se à homenagem a Armindo Carvalho como um acto de coragem “de reconhecer grandeza no coração de alguém”, algo que o Arcebispo de Braga “gostaria de registar”. Um gesto de “cuidar das nossas raízes, de todos os que nos inspiram”.
A missa das ‘Dez e meia’ foi mais longa do que o habitual, pelas homenagens e distinções que a Mesa fez a voluntários e benfeitores, uma selecção que abrangeu também ex-mesários e que ficam marca como “afectos” de Paulo Novais a quem sucedeu, respeitou e ouviu no exercício da sua função, e de outros com quem colaborou.
O novo Juíz, Ricardo Freitas, sublinhou a presença da Irmandade de São Torcato “noutros planos: o do património, que para além da Basílica, com espaços de culto e lazer ao dispor da comunidade; o da vertente cultural e educativa, através da realização de diversas actividades, e a assistência social, através do Centro Social, cuja manifestação de solidariedade é um compromisso da Irmandade para com o bem-estar da comunidade”.
“Um caminho como este não pode ser feito sem o contributo de todos.”
E distribuiu elogios ao presidente da Câmara que “sempre olhou para São Torcato de forma muito especial”, esperando colher frutos no seu percurso de Juíz, pois, “um caminho como este não pode ser feito sem o contributo de todos”, poderes públicos, instituições, pessoas do Vale de São Torcato para quem “a Irmandade sempre teve e terá as suas portas abertas”.
Fez a lista dos trabalhos a quem a nova Mesa já em funções dedicará atenção especial, alguns são herança da administração anterior.
Mostrou, como desígnio, que “irei ao encontro do inimigo ou para o vencer com a persuasão, ou para morrer com o rebanho de Jesus Cristo”, uma alusão a São Torcato. E um vaticínio de que “sabemos o que queremos, sabemos o que desejamos e vamos, com a ajuda de todos, conseguir, São Torcato merece” – concluiu.
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