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Quarta-feira, Fevereiro 5, 2025

Paulo Castelo Branco: “Passar de urbano a rústico pode dar corrupção total”

Economia

Prometeu ser mais pragmático do que Marina Gonçalves, nessa “música” sobre Habitação. E de um modo natural falou de algumas verdades, quais pedras, colocadas no caminho que levaria à construção de mais habitação e de mais lares, de família.

Começou por falar da “sobrecarga de impostos” que cai sobre os cidadãos num “país pobre” em que o “sector bancário” faz parte do mundo dos “ricos”.

Pôs o dedo na ferida das nossas “fragilidades” como cidadãos que “ganham pouco” por causa dos salários baixos, alertando para “a proximidade excessiva do salário mínimo nacional ao salário médio dos portugueses”.

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Ouvia alguém, dizer-lhe que “não vais fazer mais habitação multi-familiar” quando a ‘bolha imobiliária’ de 2008/2009 rebentou. Num caminho que percorremos a duas velocidades, Paulo Castelo Branco não estranha que surjam outras bolhas. 

Disse que o Parlamento Europeu sabe qual é a origem e a causa desta situação porque… é transversal em toda a Europa, de Norte a Sul, uma vez que o imobiliário se tornou “num meio de investimento de capitais… entrou no mercado de acções, com preços altos, com a valorização excessiva do solo (por circunstâncias diversas), com projectos caros mais 3 ou 4%”.

E foi andando, na identificação dos factores que tornam, hoje, uma casa mais onerosa. “As taxas municipais também ficaram mais caras, a burocracia aumentou – implicando perda de tempo, fazendo com que um projecto demore entre quatro e cinco anos para ser licenciado” – atalhou.

“É um furacão” – concluiu do remoinho deste processo de construção de habitações. Admitiu que “haja esperança” num mercado onde nem todos têm uma perspectiva social do valor de uma casa e de um lar.

Veio depois “a nova lei dos solos”… que, na sua opinião, não vai ajudar em nada, a confusão instalada à volta do sector. Defende que, esta lei “vai retirar dos PDM’s o conceito de zonas urbanizadas, as preocupações (que vão deixar de existir) sobre o ordenamento territorial ou do planeamento urbanístico”.

Justificou, entretanto, que ao Estado cabe o papel de interventor “prático e objectivo”. E cada espaço habitacional deve fazer “as pessoas felizes” pois, elas, “não querem viver numa célula habitacional como no Estado Novo” onde se juntavam “pessoas fragilizadas financeiramente que iam viver para o mesmo sítio, de preferência para a periferia”.

Adverte para os perigos de “ocupação das antigas reservas – agrícola, florestal, ecológica – com a passagem do rústico para urbano que pode dar azo a uma corrupção total”.

“já se pode construir em qualquer reserva seja agrícola, ecológica, estragar a paisagem e a natureza.”

Recordou o tempo “em que se falava do rigor dos PDM’s… que o PDM era dogmático, que não se podia tocar nas reservas – qualquer uma – e agora já se pode construir em qualquer reserva seja agrícola, ecológica, estragar a paisagem e a natureza, os rios. Tudo faz sentido” – acrescenta.

E sem papas na língua, fala do oito e do oitenta, em que “tudo era impossível até agora e de repente é tudo fácil e possível, passamos do paradoxo ao oposto”.

Acredita que a aplicação da nova lei dos solos, vai criar inúmeros problemas… “os projectos que entraram… não têm condições para serem deferidos à luz da nova lei, vão ser suspensos, criando ainda mais problemas a quem promove habitação”.

Com estas soluções, não se “estimula a cidadania activa, a vivência em comunidade, a participação das pessoas… é a guetização total que coloca as pessoas em áreas mais pobres, na periferia da cidade”.

Redução de 30% nos custos da habitação é possível. © Direitos Reservados

“Era um turbilhão” – disse sobre este ambiente em redor da edificação de bairros habitacionais, sem lógica, sem alma, sem espírito de comunidade e sem as estruturas básicas que existem nas cidades, dos equipamentos às infra-estruturas.

Era nestes “não lugares que viviam as pessoas, sem acesso à cultura, onde não são felizes… espaços (verdadeiros) onde se promove a infelicidade”. Vê isso, ainda hoje, em Guimarães e no Porto onde a habitação “não tem a dignidade do lugar, nem o espírito de comunidade”.

“Não será nunca o sítio onde fui convidado a viver, onde quero viver mas onde não decidi viver” – defendeu sobre estes ‘não lugares’ onde se promove a habitação, sem regras, nem lei.

Nesta procura de soluções para ter mais casas para as pessoas, Paulo Castelo Branco vislumbra um novo caminho onde para “promover a habitação todos têm de fazer parte da solução” e não ficar retidos nas expectativas.

“Cabe-nos ajudar a construir e não dizer aos outros que têm de fazer por mim.”

Filosofando na sua intervenção, foi dizendo que “os políticos somos nós… e nós não somos ET’s (extra-terrestres)… e cabe-nos ajudar a construir e não dizer aos outros que têm de fazer por mim”. Uma denúncia da “falta de participação dos cidadãos em momentos cívicos”, um reparo forte à cidadania vimaranense.

Propõe uma abordagem para resolver o problema da habitação, em Guimarães: “é, importante, entender o território”. Recorda, novamente que as taxas municipais são exageradas, que há IMI’s e IMT’s desproporcionados e taxas de IVA elevadas, o que pode ser uma ajuda à solução.

Acredita que “se pode baixar cerca de 30% aos custos da produção de habitação em Guimarães, pela redução da carga fiscal” e pela diminuição do tempo de licenciamento que também é caro.

Paulo Castelo Branco, vê nas zonas poli-cêntricas do concelho, – uma designação vulgar mas diferente sobre a classificação do território que começou no tempo de Manuel Ferreira, como presidente da Câmara, com os seus pólos de desenvolvimento – a solução para encontrar em torno das vilas espaços que permitam aglomerados populacionais com vida própria, numa visão do território mais equilibrada.

A intenção “é reduzir as pendularidades e permitir que tudo se possa fazer no seu lugar de conforto”, da saúde à educação, da cultura ao desporto. E onde se tratem os problemas “mais simples”, aproveitando para criar até indústrias criativas, aumentado os investimentos com o objectivo de fomentar a empregabilidade. No fundo, “é ter uma habitação condigna no sítio que se escolheu para viver”.

Admite que assim “todos vamos ser cidadãos de primeira, criando laços de solidariedade e de comunidade, num território equilibrado e saudável”.

E conclui: “se fizermos isto, reduzindo custos, e não sei… se é possível desatar o tal nó sobre a habitação…” porque, hoje, “o preço da habitação mais barata é quase ao mesmo preço da habitação cara, em termos térmicos”.

Ver mais: Texto 1

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