Helena Machado, professora catedrática de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e investigadora do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA), conquistou uma bolsa avançada de 2.46 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação (ERC), para analisar nos próximos cinco anos os impactos globais das tecnologias de reconhecimento facial.
As bolsas ERC são das mais competitivas e prestigiadas da Europa, sendo escassas para Portugal e nas ciências sociais. Esta é a segunda bolsa ERC de Helena Machado, que se afirma assim como uma referência internacional na sociologia. O seu novo projecto, ‘Facial Recognition Technologies. Etho-Assemblages and Alternative Futures (fAIces)’, visa uma análise abrangente dos impactos políticos, éticos e sociais que as tecnologias de reconhecimento facial exercem sobre a cidadania e a privacidade. Estas tecnologias são usadas comumente para identificação e rastreamento, armazenando biliões de rostos e alimentando redes neurais que são cruciais para o desenvolvimento da inteligência artificial.
“Vamos perceber como o uso destas tecnologias pode acentuar a discriminação e a desigualdade social, por exemplo, explorando as perspectivas de diversos grupos que nunca foram estudados em conjunto, incluindo cientistas, empresas, activistas e artistas, actuando a um nível global. Estudaremos ainda as implicações junto de comunidades negras, em países como EUA, Canadá, Brasil, Alemanha, França, Reino Unido e Espanha”, frisa Helena Machado. O projecto vai também adoptar uma metodologia inovadora para formular uma nova teoria social sobre o rosto. Pretende igualmente promover debates éticos e envolver a sociedade, estimulando a imaginação para futuros alternativos no uso daquelas tecnologias.
Esta é a 14ª bolsa ERC para a UMinho desde 2013 (abarcando áreas como bio-materiais, sociologia, engenharia civil e medicina) e a segunda para o CRIA, após Francisco Freire em 2017. “Estou muito feliz com esta distinção, que estimula também outras equipas portuguesas e das ciências sociais a concorrerem a estes financiamentos”, diz Helena Machado. A cientista quer agora criar uma equipa de referência na sociologia da inteligência artificial, juntando no CRIA-UMinho a investigação transdisciplinar, cruzando a sociologia e a antropologia com as humanidades digitais e visão computacional: “O fAIces é um projecto ambicioso e a inteligência artificial está em constante mutação, mas tudo faremos para sermos um case study”, acrescenta.
Desde a marcação da foto nas redes sociais ao desbloqueio do computador e às aplicações controversas do reconhecimento facial em espaços públicos, comércio, escolas, locais de trabalho, aeroportos e acções de aplicação da lei, as tecnologias de processamento facial estão a surgir em diversos aspectos da nossa vida, recorda Helena Machado. Embora os benefícios esperados estejam ligados à segurança e protecção, os críticos em geral sublinham que estas tecnologias normalizam a vigilância e corroem a privacidade, exacerbam a discriminação e contêm falhas e imprecisões acentuadas.
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