Unidade Vimaranense: a sua memória repousa agora no Arquivo Municipal

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O acervo documental da associação mais bairrista de Guimarães foi depositado no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta.

Perdida nos escombros de uma dependência da Irmandade de Santos Passos, a memória da vida da Unidade Vimaranense (UV), entre 1971 e 2003, fica preservada e guardada passando a estar disponível para consulta. Catalogada, gravada e preservada, essa memória em papel – livros de actas, autos de posse, correspondência – e outros como uma lápide e numa bandeira tem valor local, regional e nacional, segundo José Couceiro Costa, Juíz da Irmandade Santos Passos.

E dela consta o período da passagem do Estado Novo para a democracia. Na assinatura do auto de transferência da história documental da UV, estiveram figuras vivas – António Xavier (o último presidente da direcção) e os sócios Francisco Oliveira, empresário, residente em Vizela, Belmiro Jordão e Fernando Xavier.

Na memória imaterial da associação ainda cabem as suas realizações como a construção de uma piscina – ainda abandonada – courts de ténis e a aquisição dos terrenos onde o Vitória construiu o seu complexo desportivo.

Desse passado nostálgico de uma associação que representava os interesses do concelho, mais puros, reivindicados contra o poder instalado desde o tempo do salazarismo ao marcelismo e já em democracia, com Braga a tirar partido da desunião de Guimarães, facto que levou o então Governador Civil, Santos da Cunha, a rotular a cidade-berço como “uma terra dividida, onde ninguém se entendia”, como relatou António Xavier, a mostrar memória fresca desse período.

Aliás, “o insurgente” como lhe chamou Rui Vítor, foi a cara do protesto que enfrentou Santos da Cunha, cara a cara, num jantar, realizado, em Guimarães, onde o ex-Governador Civil pedia aos empresários vimaranenses uma ajuda para tornar “o Natal do distrito mais doce…”

O ex-presidente da Câmara ficou-se por esse episódio que é um sinal da rivalidade “saudável” com Braga, desde tempos imemoriais e que não se resume apenas ao futebol. Guimarães representava então para o distrito “um prestígio enorme apesar de o poder central estar representado na cidade dos arcebispos”.

A história da Unidade Vimaranense pode ser consultada agora no Arquivo Municipal Alfredo Pimenta. © GA!

“Como ninguém fazia nada por nós, Guimarães voltou-se para si próprio e para os seus recursos.”

Disse o ex-presidente da Câmara que no passado, Braga tinha peso religioso e Guimarães peso político que juntava o peso económico que o tornava o concelho independente. “Como ninguém fazia nada por nós, Guimarães voltou-se para si próprio e para os seus recursos” – referiu António Xavier.

Lembrou ainda uma concentração que com a paralização das fábricas levou trabalhadores e empresários para o Toural e depois para o Largo João Franco, onde se viu que “Guimarães uniu-se de todo” e que “obrigou” Santos da Cunha a estar presente para “mostrar” que estava ao lado de Guimarães e dos seus problemas.

Recorda que “este foi um momento alto dos vimaranenses, onde ricos e pobres deram as mãos”. Depois, com as reivindicações feitas, vieram a Universidade do Minho – localizada nas Taipas – a que Braga se opôs – e acabou dividida em dois pólos, como hoje.

António Xavier recordou até como a UV passando a acolher todos os partidos políticos e pouco depois perdia a sua força bairrista.

O presidente da Câmara, Domingos Bragança considera “importante” reivindicar, enquanto luta conjunta e não imputar a outros a acção de concretização dessas reivindicações. Uma alusão aos momentos entre o fim do marcelismo e a implantação da democracia onde figuras importantes participaram.

“A ideia de distrito foi sempre discriminatória em desfavor de Guimarães.”

“A reivindicação autêntica é a que não aponta aos outros a responsabilidade de não se ter concretizado, isto e aquilo” – defendeu. Ao mesmo tempo acentuou que “é preciso ter sempre em conta os ensinamentos da história”, salienta que “a ideia de distrito foi sempre discriminatória em desfavor de Guimarães”, que já tinha sido capital do reino e que o regime liberal do país deixou que Braga fosse a capital da região.

Domingos Bragança não tem dúvidas de que “a nossa situação presente tem justificação no passado”, uma ideia que representa “a minha leitura da história”.

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