Há, sempre, dois momentos e dois capítulos para a celebração do Dia UM de Portugal:
- Um é o olhar para o passado histórico decorrente do 24 de Junho de 1128 e tudo o que ele encerra à sua volta, de factos e protagonistas, através das Jornadas Históricas, ainda assim incidindo mais no pós-São Mamede do que antes e no durante da Batalha;
- O outro é o viver ou reviver pelos descendentes actuais dos que fizeram o 24 de Junho, um folguedo que agita o burgo, nas duas vilas da Vimaranes de então.
A Feira Afonsina enquanto recriação histórica, mais no lusco-fusco e na vila de Baixo evidencia as trevas de uma vila, a brilhar de independência, pobre, mas ainda a sentir o culto do largo do oculto, ensombrado por flores e folhas de laranjeira, de adivinhos do tempo e de credores do futuro, sempre prontos a viver de miséria alheia com consultas – consoladoras de um futuro sem vislumbre algum no horizonte porque era demasiado difícil prever quanto mudaria a sociedade nesse tempo e a rapidez com que se fariam as mudanças.
O 24 de Junho de 1128 cumpre o que pode ser a comemoração festiva dos acontecimentos do pós-Batalha de São Mamede, altura que D. Afonso Henriques adoptou o título de príncipe. Um festejar do pós-Batalha de São Mamede, entre soldados que formavam o exército do Rei; uma casta de homens e mulheres que começaram a formar a Corte do Rei Afonso.
Contudo, reavivar esse passado é quase um exercício de adivinhação porque o que a história regista são os factos principais da época, soltos, um pouco imprecisos. Ninguém consegue imaginar, ao pormenor, o que seria o modo e o estilo de viver, de uma urbe dividida ao meio, lá no alto do Monte Latito e cá em baixo numa vila da idade média, arbitrária, sem civilização, desarrumada.
Nesse perscrutar do passado, há episódios que se destacam e que pretendem “montar” o cenário de uma vida à volta de um Castelo, residência do Rei e de uma Corte, porventura com uma envolvência de mais vegetação e tendas de homens destacados para a guerra e para a defesa do soberano.
Voltar a 1128 e ao período que se segue na história Afonsina é mais que um exercício de imaginação mas uma tentativa de invocar um passado sem conhecê-lo, o que alimenta o mito de procurar, cada vez mais, o verdadeiro sentir dos homens e mulheres que viveram anonimamente no território.
Mas a recriação faz-se no que se pode ou conhece do quotidiano de uma Guimarães medieval alimentando o espírito e o orgulho de um passado que poucos ousam contestar apesar de episódios avulsos.
O 24 de Junho e a Feira Afonsina afirmam-se, assim, como a fonte do orgulho vimaranense, a semente de um país a que um Rei deu forma, força e carácter.
Viver estas duas facetas da nossa história é também entretimento – ou mais do que isso – porque didacticamente a história já nos ensinou (a alguns) o verdadeiro significado da data.
Hoje, a Feira Afonsina é a festa da família, das crianças, do comer e da diversão, vivida em caminhadas numa rua – com o nome de Maria – percorrida vezes sem conta, num subir e descer onde se espalham pedaços de história pela animação produzida com a presença de mercadores, ofícios, iguarias, desgraças (ficção), onde as crianças se divertem como guerreiros e outras actividades que se realizam evocando a sociedade de então e o seu modo de viver.
Mas saber como se vivia naqueles tempos, há quase 900 anos, é difícil. O que se sabe, hoje, é como os descendentes de D. Afonso festejam a mesma data, no mesmo espaço, em tempo de paz, numa civilização diferente, com a família e os amigos. E com coisas comuns, como o comer e o beber ao ar livre, divertindo-se em tardes e noites de calor, festejando a gesta Afonsina.
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