Nunca, nos seus mandatos, Domingos Bragança foi tão claro na defesa da instituição Câmara perante as ameaças e os apetites partidários.
No fim do mandato, de quase 12 anos, o presidente da Câmara planta a árvore da independência da governação municipal face ao seu próprio partido, sem negar a natureza partidária da sua candidatura.
O que foi dito durante a reunião de Câmara, na última Segunda-feira (dia 16 de Dezembro), tem um significado político relevante e tem vários destinatários.
Embora admitindo que o estudo pretendido pelo BE e aprovado na Assembleia da República sobre a ligação ferroviária Braga-Guimarães “não comprometa em nada” a solução do Metrobus ou metro ligeiro de superfície que a Câmara tem defendido, Domingos Bragança mostra-se indisponível para reverter o processo que iniciou com os governos anteriores e com os Ministros Matos Fernandes e Duarte Cordeiro. E sobre os quais, o actual Ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, “se mostrou aberto e consensual”.
Na conversa com os jornalistas, o presidente deixou claro que não se desvinculará das suas funções nem dos seus propósitos e ambições sobre todos os processos em curso, incluídos no pacote da mobilidade urbana sustentável.
Recuou no tempo e lembrou que foi Matos Fernandes, então Ministro do Ambiente, a concordar com a solução do Metrobus para os concelhos do Quadrilátero Urbano, dando prioridade a Braga e a Guimarães na implementação deste projecto – o que já começou na cidade vizinha.
Duarte Cordeiro, o também Ministro do Ambiente, atribuiu dois milhões de euros para estudos – que demoram no tempo – para o desenvolvimento desta solução, enquadrada na política de sustentabilidade do território, expressa na candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia.
“Os projectos estão a ser desenvolvidos” – declarou Bragança, reafirmando que o que está a fazer-se resulta “de compromissos com os dois anteriores governos” do PS. E são esses projectos que influenciarão o actual Ministro das Infraestruturas a encontrar a solução de financiamento, ainda não definida.
Insistiu que “não vejo que isso nos atrase… estamos a acelerar o que é um compromisso assumido com vários governos”, afirmação que tem vários destinatários.
Primeiro, o PS que só recentemente resolveu, por impulso, recomendar ao Governo um estudo sobre uma hipotética ligação Braga-Guimarães por ferrovia, quando já existe no terreno uma solução por Metrobus.
E se diz que “é bom… se agora quiseram acrescentar a ferrovia pesada”, também é claro que o estudo dessa solução “pode atirar para as calendas gregas, para os próximos 30 a 40 anos, a implementação dessa ligação”.
Domingos Bragança também quer dizer a Miguel Pinto Luz que o início do Metrobus em Braga e que ligará, perto da Morreira, a ligação a Guimarães, não pode ser mais adiada. E que as decisões impostas pelo PS – apoiadas e subscritas pelo presidente da concelhia vimaranense – não são nenhuma areia na engrenagem. “Nem podem pôr em causa as obras estruturantes para Guimarães”, como sublinhou. Obras essas aprovadas pelos órgãos municipais.
Por isso, clama em afirmar que “estamos a acelerar os processos e não a abandonar esses projectos”.
“Agora o Governo vai ser obrigado a estudar a ferrovia.”
O PSD é outro destinatário das palavras de Bragança durante e após a reunião. Acentuou que não há “marcha atrás” referida por Bruno Fernandes. E que o diálogo com Ricardo Costa sobre estas matérias não existiu. “Se não fala com o deputado… o deputado devia falar consigo, sobre as consequências desta decisão e a sua relevância”, pois – afirma Bruno Fernandes – “agora o Governo vai ser obrigado a estudar a ferrovia”, apesar de considerar que “ninguém acredita que Guimarães e Braga se liguem por Metrobus e ferrovia, ao mesmo tempo…”
O vereador do PSD, durante o diálogo com o presidente, insistiu e questionou Bragança: “vai deixar passar o assunto?” E como reage “a um deputado que vai apoiar uma coisa importante para Guimarães sem falar com o presidente da Câmara?” E foi mais longe: “o senhor presidente tem estudos, tem orçamento e tem um deputado do seu partido que estraga tudo!”
“A minha responsabilidade é com os eleitores e com os vimaranenses.”
Esta deixa, foi importante, para Domingos Bragança, de forma serena, se demarcar do PS… E afirmar o municipalismo que defende em detrimento do partidarismo: “a minha responsabilidade é com os eleitores e com os vimaranenses, a minha candidatura tem uma matriz partidária, no início, mas o presidente da Câmara não representa os socialistas mas todos os vimaranenses”.
Não querendo trair “esta ligação aos vimaranenses”, Bragança reforça que é a eles que tem de dar “as respostas”. E deixa claro: “não obedeço a instruções partidárias, estou aqui para defender os interesses de Guimarães”. Uma afirmação idêntica no espírito ao que António Magalhães sempre defendeu: a Câmara é a Câmara, o partido é o partido.
Neste recado para o PS (de Ricardo Costa), Bragança não podia ser mais eloquente a reclamar a sua independência legitimada pelo voto: “o presidente da Câmara não tem de perguntar nada a ninguém, senão isto (a Câmara) transforma-se num órgão partidário, não pode ser assim”.
Curioso é que se virou para os vereadores socialistas “façam o favor de apresentar as suas opiniões… sem porém em causa questões essenciais…”
© 2024 Guimarães, agora!
Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!
Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.