11 C
Guimarães
Quarta-feira, Abril 24, 2024

Trabalho: A cultura do mérito diminuirá número de mulheres desempregadas

O vereador do desenvolvimento económico do Município foi confrontado com a realidade dos números de pessoas no desemprego. Guimarães, no final de 2020, passou a ter mais 1048 desempregados. E apresenta algumas medidas para diminuir o que é já um flagelo social que se pode agravar em 2021. E incita as empresas a praticarem a cultura do mérito e não do género nas suas contratações.


Guimarães tem mais mulheres do que homens no desemprego. Que reflexão faz destes factos?

É conhecido o rácio superior de população do sexo feminino em relação ao sexo masculino, em Guimarães, por um lado. O emprego ligado ao sector secundário, nomeadamente nas áreas do têxtil e calçado, é por norma predominantemente assumido pelo sexo feminino, logo numa situação de crise, como a que vivemos actualmente, reflecte-se num incremento do desemprego feminino em relação ao masculino. Depois, e complementarmente no caso da indústria existe ainda a mentalidade de que a contratação de funcionárias, nomeadamente em idades que pretendem ter filhos, obriga a uma interrupção da actividade profissional nessa fase.

Incrementar a prática de cultura do mérito nas empresas em detrimento da promoção pelo género…

Propõe alguma medida para que a mulher seja mais aceite no mercado de trabalho local e regional, visto tratar-se de um fenómeno que aflige o território da CIM do Ave?

Deverá existir uma reflexão sobre políticas que visam a integração de apoios sociais e que valorizem o papel da família, nomeadamente na equidade de benefícios e obrigações. Outras medidas passam por políticas de incentivo de igualdade de género e de discriminação positiva na integração equitativa de cargos qualificados no sector privado. Incrementar a prática de cultura do mérito nas empresas em detrimento da promoção pelo género, também é um dos caminhos a par de acções de capacitação e de promoção das capacidades individuais (resekilling e upskilling).

Dos contactos que tem tido com os empresários, este fenómeno alguma vez foi abordado?

Sim, naturalmente porque o desemprego é algo que nos aflige permanentemente e, por isso, tenho abordado inúmeras vezes os empresários de Guimarães no sentido de repensarem na atractividade das funções e da sua denominação, que por inerência estão por norma atribuídos ao sexo feminino. Como exemplo, é recorrente no nosso tecido empresarial regional a dificuldade em empregar costureiras. Facilmente percebemos que a conotação social adstrita a este cargo, é um factor de desinteresse e por isso de difícil contratação. Várias vezes, sugeri a reflexão a vários empresários destas áreas para repensarem na denominação e as funções atribuídas para aumentar a atractividade e sentimento de pertença à empresa. Também, na sequência das diversas visitas que tenho vindo a realizar, verifico que a mulher, para além da mesma capacidade que o homem tem na gestão diária da empresa, revela uma aptidão nata. Esta competência nasce devido à necessidade que teve ao longo dos anos em se reinventar e reestruturar, gerando uma capacidade extraordinária de veicular o pensamento crítico para o empreendedorismo, tornando a gestão mais tradicional, numa gestão de valor acrescentado e relevante no papel que poderão ocupar.

© GA!

Outra característica do desemprego mostra-nos que os trabalhadores mais atingidos são os que ainda há menos tempo eram activos, com inscrição até 1 ano nos centros de emprego?

Esses dados facilmente se justificam pelas indemnizações menos dispendiosas ou pelo simples facto de não renovação de contrato.
Neste âmbito terão de ser realizadas acções que visem a integração desses mesmos trabalhadores, com incentivos por exemplo à incubação industrial nessas mesmas empresas. Criando assim condições para a criação de empregos mais qualificados e simultaneamente o desenvolvimento de novos produtos.

No que toca ao escalão etário do desempregado, há dois que se distinguem: os de 25-34 anos e de 35-54, ou seja, são 54,64% dos sem trabalho. Não se trata de trabalhadores que deviam ter um emprego estável para uma carreira contributiva mais sólida?

Dada a singularidade dos territórios e uma vez que o ecossistema de educação-empregabilidade, não se adaptam às necessidades dos mercados, existe a necessidade de criar programas de, por exemplo, de reskilling que permitam adequar a formação destas pessoas à realidade da procura do tecido económico. Outro factor é a valorização financeira que é atribuída, às vezes menos compensatória do que os apoios ao desemprego. Acresce ainda o facto das novas tendências destas novas gerações inquietas, com pouco tempo de permanência nos empregos, denominados de job jumpers e cujo comportamento é difícil de entender, dado que estes tendem em nortear as suas escolhas profissionais pelas empresas com maior impacto, mais internacionais e com missões mais inspiradoras.

O segundo exército dos sem emprego tem mais de 55 anos (36,13%), não estamos perante um grupo condenado a uma carreira mais curta que não permitirá ter uma pensão mais digna, em idade de reforma?

Sim, é uma realidade que poderá ser mitigada com base nas políticas de gestão de pessoas, nomeadamente as metodologias de upskilling que tenho vindo a defender e a trabalhar para que sejam uma realidade em Guimarães. Esta situação insere-se claramente nas novas perspectivas de digitalização da economia em que a iniciativa do projecto de inovação de âmbito regional para o sector industrial pode dar resposta.

Na sua perspectiva como se poderiam inverter estas tendências?

Pelo que já disse nas respostas anteriores, enquanto acções que no âmbito de estratégias como o “Guimaraes Marca” estão a ser levadas ao terreno por forma a mitigar os problemas. Nesse âmbito é a estratégia de responsabilidade social que está a ser preparada com a participação no projecto europeu Urbact “Cities for Corporate Social Responsability”. Realizando acções de promoção em formato adaptado às condições pandémicas como o “Guimarães Marca Fashion Festival”, com outras assentes em vectores estratégicos essenciais ao território em que estamos inseridos: ciência e tecnologia, capacitação de recursos humanos, investimento produtivo e factores dinâmicos de competitividade. Estes vectores ganharam ainda mais importância perante a pandemia que se instalou e que vem demonstrar a necessidade de acelerar a transformação sem que ninguém fique esquecido.

© GA!

Num ano de crise pandémica – 2020 – o número de desempregados em Guimarães aumentou em 1048 cidadãos (o 3º melhor ano desde 2014), comparativamente com 2019. Que leitura faz destes números?

São situações inevitáveis nesta fase em que o impacto da pandemia nos apresenta um cenário que nunca foi antecipado. Nesse sentido têm sido realizadas iniciativas quer ao nível governamental, quer local, para mitigar as dificuldades das empresas que são o garante da estabilidade social. Note que assistimos a um crescimento exponencial das áreas de actividade que estão relacionadas directa ou indirectamente com o turismo, e que promoveu o incremento de emprego que visaram colmatar essa necessidade. Tendo sido esta uma das áreas mais afectadas por este contexto epidemiológico em que vivemos, conseguimos facilmente perceber a relação destes números.

Que tipo de trabalhadores são hoje mais absorvidos pelo mercado de trabalho?

Aqueles que visam responder às necessidades mais técnicas e específicas das nossas empresas.

O que ouve dos empresários, permite-lhe concluir que Guimarães precisava de algum plano especial para o emprego e formação?

Sim, temos vindo a trabalhar com o IEFP e com as empresas, para a formação à medida das necessidades e realizada dentro das próprias empresas. Temos o I9IN, uma acção do I9G que tem auscultado e feito um diagnóstico das necessidades das empresas.

Teremos de olhar para o futuro com a visão de oportunidades e não de dificuldades. Muitos empregos serão destruídos, mas muitos novos serão criados…

A introdução da tecnologia na indústria afectará o emprego dos cidadãos?

Afecta certamente, como a última revolução industrial também afectou. Mas teremos de olhar para o futuro com a visão de oportunidades e não de dificuldades. Muitos empregos serão destruídos, mas muitos novos serão criados, valorizando as áreas mais criativas e que não serão substituídas pelas máquinas. Novas profissões surgirão, apenas teremos de estar atentos e com a proactividade necessária para agarrar as oportunidades. Os fundos comunitários são aqui também uma nova oportunidade. Reforçamos novamente a importância de iniciativas como o projecto de inovação de âmbito regional para o sector industrial do Município de Guimarães. Dentro de uma perspectiva de potenciar a ajuda de fundos comunitários que terão um papel preponderante na implementação das iniciativas necessárias para ultrapassar a crise que a cada dia se apresenta com maiores impactos.

© 2021 Guimarães, agora!


Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!

Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

PUBLICIDADE • CONTINUE A LER
PUBLICIDADE • CONTINUE A LER
PUBLICIDADE • CONTINUE A LER

Leia também