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Quarta-feira, Abril 24, 2024

Os adeptos reagiram como sempre reagem

Economia

Emoção e raiva contra a provocação.

A reacção podia ser outra, passiva até, no uso da máxima de que “só nos insulta, quem nós queremos”. Mas quem pode pedir racionalidade em momentos chave de um jogo de futebol? E quem sabe como vão os adeptos reagir a isto ou aquilo quando é conhecida a susceptibilidade de os vitorianos quererem fazer justiça por conta própria?
Contudo, admitindo que a reacção pudesse ser de outra ordem, não peçam ao adepto de futebol – de qualquer equipa – que actue sempre dentro de um padrão de normalidade e frieza que não os leve a cometer actos impensáveis – ainda que controláveis-, na celebração de um golo, no festejo de um triunfo, no desaire do adversário.

Até os mais vulgares cidadãos, pacatos no seu dia-a-dia, se transformam em tempos de êxtase futebolístico, exultando com os golos e as vitórias, recriminando o jogador da sua equipa que falhou um golo, fez um passe errado, perdeu a bola. E até o treinador que pensa pela sua cabeça, o que ouve quando tira o A para meter o B em oposição ao que o treinador de bancada deseja e quer impôr. Ou o dirigente que para poupar na farinha gasta no farelo, optando por trocas de jogadores de qualidades duvidosas.
Para que se saiba – e bem ou mal – o adepto de futebol não é um ser passivo, reage a emoções e solta-as ao Domingo (quando assim era). O adepto não é o cidadão que aceita que o governo lhe cobre mais impostos, lhe limite os direitos de acesso à segurança social e saúde, lhe pague reformas menores.

Está no futebol para assobiar, vociferar, berrar, apoiar, dizer mal do adversário e do árbitro e das suas famílias.
E quem vai mudar este comportamento se, cada vez mais, os adeptos do VSC se queixam – às vezes com razão – de que o “sistema” não deixa o seu clube ganhar para ser campeão, de que o árbitro xis, não vai à missa com a malta de Guimarães e também dá uma mãozinha ao adversário, ajudando-o na derrota e dificultando-lhe a vitória?

Não faltam por aí “justiceiros” sempre prontos a mandar os “pilha galinhas” para a prisão e manter em liberdade os que nos vão ao bolso, quer seja pela via do Novo Banco quer seja por outro banco qualquer… E que se querem tornar nos educadores da classe operária, desejando que eles se mantenham firmes e hirtos, sem reacção, aceitando tudo o que lhe dão – mesmo no futebol.
No futebol, há sempre uma boa razão para comportamentos emocionais que escapam às nossas razões. E que só podem ter um fim quando deixarem de ganhar sempre os mesmos, quando houver mais justiça na distribuição do dinheiro do futebol pelos clubes, que os árbitros não inclinem o campo. Se assim for, os insultos no futebol vão diminuir apesar de haver sempre lugar para gente menos formada e mal educada, que quer protagonizar a indignação e a justiça pelas suas próprias mãos.

Os adeptos já olham para o futebol com a certeza de que o seu clube vai ser prejudicado pelo árbitro xis. E não é por superstição. É porque já andam nisto há muitos anos.
Porquê então perseguir os adeptos – julgados racistas num território cheio de pessoas não racistas – quando não se castiga o árbitro que inclina o campo para favorecer o clube do seu amigo?
Na indignação dos adeptos do VSC manifestada contra Marega está lá tudo isto e não apenas o gesto do jogador a mostrar o que era evidente: a cor da sua pele.

Também lá está a indiferença dos dirigentes desportivos – da Liga – a vociferar contra os fantasmas racistas de Guimarães, esquecendo os Ku Klux Kan do futebol e dos múltiplos exemplos que não chegam a ser notícia de tv ou jornal só porque são cometidos por adeptos de clubes azuis, verdes e vermelhos.
Na reacção dos adeptos – que não são nenhuns santos mas também não são nenhuns diabos de quem se fuja – também lá está a indignação contra a justiça desportiva permeável a classificar o arremesso das tochas dos adeptos do Benfica um adereço de iluminação e nos petardos dos adeptos do Vitória, uma atentado à segurança do estádio e dos agentes desportivos.

Claro que os adeptos sentem-se discriminados. Então no Moreirense-Porto nem árbitro, nem delegados da liga, nem jornais e tv’s viram qualquer insulto, episódio ou momento racista. E no VSC-FCP fartaram-se de ouvir gritos contra o Marega. Pois, no futebol, escreve-se demais quando é para punir os clubes modestos e na hora de descrever o que poderia justificar uma punição maior num tal clube grande, a tinta da caneta, acaba ao delegado e o computador do árbitro não tem todos os caracteres para que se possa contar a verdade.
Deixemo-nos de falsos moralismos, os adeptos não são robots, são gente de corpo e alma, são humanos. Deixem de os provocar e vão ver que eles também são racionais.

© 2020 Guimarães, agora!

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