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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Moncho Rodriguez: “nunca seremos vanguarda de nada se castrarmos o nosso talento”

  • Não regressa como o D. Sebastião cultural nem como quem quer lançar uma pedrada no charco. A sua presença em mais uma encenação contemporânea de A Grande Serpente pode legitimar um passado. Nunca antecipará um futuro, embora possa questionar e lançar dúvidas sobre se o que se faz interessa ao público consumidor do fenómeno cultural.
  • Esperemos, pois, para ver o que uma grande produção teatral pode trazer a uma dinâmica associativa que se quer mais viva, pujante, indisciplinada, a tornar um grito de guerra que seja um grito de amor pela arte.

Como encara a encenação de A Grande Serpente hoje com a que fez há 28 anos…
É um grande desafio mesmo recordando, conscientemente, que aquilo que produzimos em 1994 foi fundamental para o que hoje se vive, um contributo forte para mexer com o panorama cultural de então. O desafio da ODIT em 1994 foi mote para a transformação de uma geração de jovens vimaranenses que passaram a vivenciar a arte, o teatro e a cultura na linha da frente da sua acção pública e edificação pessoal, participando em propostas artísticas de vanguarda, com encenações onde todos foram protagonistas, com programas inéditos de teatro, artes plásticas e outros, como a Semana da Dança.

“Ontem as dificuldades que sentíamos, a vários níveis, eram combatidas com a paixão”.

As condições são outras…
Ontem as dificuldades que sentíamos, a vários níveis, eram combatidas com a paixão, o querer, a vontade de ser mais. Essas dificuldades dos então jovens artistas fizeram emergir o seu talento e o seu apetite por fazer mais e diferente. Ontem, não havia escolas de arte, para formar artistas, são estas estruturas que facilitam hoje o acesso à vida artística.

Qual era o compromisso ontem?
A necessidade urgente de transformar o lugar onde estávamos ou vivíamos. Naquele tempo, todos libertávamos um grito de guerra que mais não era do que um grito de guerra de amor e de arte… E na ODIT ousou-se pensar Guimarães como Capital da Cultura, com intercâmbios internacionais, com companhias de teatro, pesquisadores, dramaturgos, artistas plásticos.

Ainda se lembra de como chegou a Guimarães?
Vínhamos sem cachet… a vontade era tanta de fazer coisas diferentes com tantos jovens que viam na cultura uma paixão… Ainda tentei fazer uma encenação antes do Teatro Jordão encerrar definitivamente. Mas apresentamos As Velhas nos claustros da Câmara Municipal.

Hoje faria o mesmo?
Sem dúvida porque a arte não se pode fechar. A arte é vida que se transforma em humanidade, gente que sonha outras vontades e coragens onde se criam as mudanças. A arte é o coração pulsante de uma sociedade que não se deixa acomodar nem encabrestar. Aquele era o projecto necessário para a época. E representava um compromisso amigável entre a cultura e a política.

📸 A Oficina

Voltar hoje a Guimarães é…
…o desejo de criar um momento maior no plano artístico e social, colocando as pessoas no centro da peça como actores. E celebrar, reconhecendo o que construímos e nos transformou a todos. Vamos propor descobrir novas sensações, novos desafios. Um novo teatro, um teatro que ainda não foi celebrado. E reflectir sobre o agora, para onde devemos e queremos ir.

O que vê, agora, em Guimarães?
Está tudo construído, há equipamentos culturais por todo o lado. Todos os espaços da cidade são poéticos onde a arte podia estar. Há um futuro para ser construído. Há mais oportunidades para dar aos jovens, a oportunidade de criar… sem ameias ou amarras!

Haverá novas inquietações?
A arte mexe com a vida. E retomar esse caminho pode ser um desafio maior do que da primeira vez. O desejo era protagonizar um projecto novo, reencontrar jovens que se iniciaram naquele momento, que junte também gente nova.

“Um processo cultural não depende de um actor mas da comunidade”.

Que compromisso propõe para o futuro imediato?
É um compromisso entre a arte e a vida. Todos, através das artes, podemos mudar alguma coisa. Um processo cultural não depende de um actor mas da comunidade.

📸 A Oficina

Os jovens com quem fez encenações há 28 anos, ganharam a sua maioridade na cultura. Satisfeito?
Claro que sim é um sinal de que o projecto da ODIT era vivo e claro, servia as pessoas. Ver sair de Guimarães, há 28 anos, cerca de 50 jovens para se embrenharam na cultura, de forma profissional, é uma satisfação enorme. Sobretudo porque eles saíram contra o preconceito que se sentia no Minho e no Norte. A ODIT foi um grito de guerra, pela arte.

Quando deixou Guimarães o que sentiu?
A opção de sair, fundou-se na percepção de que havia um desligamento do apoio à produção local. Se a cultura for só de um… provoca o desligamento do espectador com o actor. Questionar é um acto culturalmente livre. Hoje, questionaria se o que está sendo feito em Guimarães responde às necessidades do nosso público. Nunca seremos vanguarda de nada se castrarmos o nosso talento, a nossa criação e o que a comunidade como público procura e deseja.

📸 Moncho Rodriguez

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1 COMENTÁRIO

  1. Muito boa entrevista. Narrativa de fato comprovado. Isto é fundamental. Realização de sonho. Vitória de luta
    Conquista da criação artistica. . COMPROMETIMENTO.
    Viva Moncho Rodriguez que nos contamina pelo amor ao teatro. Em breve tempo que ainda não sei quando, retornarás ao Maceió das Alagoas, ao Brasil.

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