- É a curadora da exposição ‘A Paixão em Guimarães’ que mostra em diversas igrejas o património religioso do concelho. É uma das várias iniciativas do programa ‘Da Quaresma à Páscoa’ que a Câmara Municipal através da sua divisão da Cultura promove anualmente. E já conta com dez edições.
- A técnica superior do Museu de Alberto Sampaio – instituição que se associa à organização deste evento – dá-nos uma perspectiva mais ampla e profunda do património religioso que se guarda em Museus e Igrejas como um outro lado de um conjunto de bens da cultura, quais tesouros que são mantidos à guarda de entidades de pendor cultural em Guimarães.
- Parte desse património é classificado como ‘Tesouro Nacional’ pelo Estado, com qualidade artística cuja avaliação fica ao critério de quem o vê e sente.
- Este acervo, segundo Maria José Meireles, poderia justificar uma outra exposição de “um património específico e rico”, que vem “desde o período neolítico até aos nossos dias”.
“A extinção dos conventos e a guerra civil no século XIX, foram trágicas para o património religioso.”
Como qualifica e quantifica o património religioso existente em Guimarães?
Guimarães possui um património religioso que pertence a várias instituições. As peças mais conhecidas pela sua qualidade e excelência são os doze Tesouros Nacionais classificados pelo Estado, quase todos provenientes do Tesouro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Foram resguardados no Museu de Alberto Sampaio, que tem como missão estudá-las e divulgá-las. Existem ainda outras colecções particulares com acervos interessantes, que ainda não são conhecidos, mas que por vezes aparecem nestas exposições. Também não podemos esquecer que o concelho passou por épocas de grandes crises, que afectaram profundamente a vila e os seus bens. Aquando das invasões francesas, as igrejas e outras instituições religiosas foram obrigadas a entregar a maior parte das suas pratas. A extinção dos conventos e a guerra civil no século XIX, foram trágicas para o património religioso. Houve ainda a desactualização de algumas peças que foram desaparecendo por desgaste, desinteresse ou mesmo por meios naturais. Com a actual abertura das igrejas e das instituições religiosas à população, pretende-se mostrar os acervos que possuem, e ajudá-las a preservá-los como peças de arte e de reflexão, que são mostradas ao público sempre que possível.
E o que está em exposição em ‘A Paixão em Guimarães’?
A exposição, ‘A Paixão em Guimarães’ foi realizada com auxílio dos párocos, juízes de irmandades e directores de museus, que colaboraram com agrado na organização e pequena exibição do seu acervo. Solicitámos a cada instituição que escolhesse três peças de arte suas, relacionadas com a época quaresmal, para serem vistas pela população como obras de arte que fazem parte intrínseca na nossa cultura europeia e também na profunda fé dos fiéis.
Que critérios foram seguidos para a selecção de obras e temas desta exposição?
Faz parte do regulamento da exposição que cada uma das igrejas e das instituições participantes escolham três peças do seu acervo, relacionadas com a época de meditação e reflexão, que é a Quaresma, e que termina com a paixão e morte de Jesus. Estas instituições geralmente já possuem uma pessoa com alguma experiência e condições para fazer uma escolha digna. A mostra fica aberta ao público até ao início do Sábado de aleluia, que precede a enorme alegria da Páscoa com Cristo ressuscitado.

A qualidade artística das peças, vê-se de que forma?
A qualidade artística das peças é bastante subjectiva e difícil de se perceber, pois depende da sensibilidade do autor da peça, do material em que é feita, da sua composição ou design, das cores escolhidas, da época em que foram criadas, e ainda com outras formas de avaliação. A maior parte das vezes, os responsáveis avaliam as peças expostas pela sua forma e sobretudo, pelo sentimento.
“O percurso é orientado por um mapa da cidade que também permite a divulgação do tema às pessoas de fora.”
A opção por vários locais que objectivo pretende atingir?
O principal objectivo foi mobilizar as instituições religiosas para divulgar o seu acervo e a associá-lo ao próprio local. Cada uma delas apresenta a sua própria identidade e, através da sua união, construiu-se um percurso de dó e reflexão sobre a Via Sacra de Jesus, que abrange toda a cidade. O percurso é orientado por um mapa da cidade que também permite a divulgação do tema às pessoas de fora. Assim, o percurso inicia-se na igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, passa pelas instituições religiosas da cidade e sobe ao cume da serra de Santa Catarina, onde termina na igreja do Santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, a 600 metros de altura em relação à cidade.
Optar por uma exposição colectiva num só local não seria a mesma coisa?
Uma exposição colectiva num só local não dá dinamismo que se deseja à exposição, pois não possibilita um percurso religioso, como se fosse uma espécie de via sacra, pelas igrejas e instituições religiosas da cidade. Para a realizar e tentar que as pessoas passem por todas as instituições religiosas abertas ao público, foram feitos com o auxílio da Câmara Municipal, uns pequenos livrinhos com textos bíblicos referentes à Quaresma. No final do texto, existe um passaporte que os fiéis têm que carimbar em cada instituição, recebendo um marcador de página com uma imagem sacra identificando a data e o tema.

O que ficou de fora desta exposição, de património existente nas igrejas e museus?
A exposição realiza-se há dez anos e cada instituição tem apresentado as peças que possui e aprecia, pois, o decorrer do tempo já permite que possuam uma abrangência significativa do espólio. Se não tiver peças suficientes, poderá repetir as mesmas, desde que se integre no tema quaresmal.
Esse património justificaria mais exposições?
Este património poderia justificar a apresentação de várias exposições com outros temas, porque há material disponível, mas nem todo é da mesma qualidade. Teria que se pensar em novos temas, em pessoal habilitado e nos recursos necessários, pois cada instituição tem a sua missão e gestão própria que não pode descuidar. Há instituições que não apreciam ceder ou vulgarizar as peças do seu acervo para o exterior, outras não possuem pessoas com disponibilidade para participar ou organizar outras exposições.
“Guimarães possui um bom trabalho de divulgação cultural.”
A cidade continua a ser o pólo mais rico do património?
A cidade e o concelho possuem um património específico e rico que é conhecido e está disperso pelo concelho ou acondicionado nos espaços das instituições, mas está fundamentalmente localizado na cidade. Algumas instituições realizam uma interessante divulgação não só através da internet, mas também em monografias, periódicos, jornais, imagens, exposições e outros meios que ajudam a conhecer o interessante património da cidade. Este expande-se desde o neolítico até aos nossos dias. Guimarães possui um bom trabalho de divulgação cultural.
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