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Segunda-feira, Abril 29, 2024

Cultura: A Grande Serpente está de volta… a Couros!

Foi uma grande produção à época, quando Guimarães desbravava os caminhos da Cultura, como política municipal. Também se assumiu como produto cultural pela envolvência de muitos jovens que desafiaram o futuro, internando-se como artistas.


E vingou como estrutura, mudando de nome e mitigando o seu objecto: a ODIT – Oficina de Dramaturgia e Investigação Teatral foi a mãe de A Oficina, cooperativa de Artes e Mesteres.

Hoje, 28 anos depois voltamos ao rasto de A Grande Serpente, também por saudosismo mas como contra-ponto à cultura quase vulgar e de vão de escada que se alimenta e se estimula com dinheiros públicos.

Os saudosos do caminho terrestre da Cultura, em Guimarães, elevam o espectáculo A Grande Serpente como processo cultural icónico, pela sua ousadia, pela escolha do seu local de representação – uma antiga fábrica degradada na zona de Couros.

Com texto de Racine Santos, A Grande Serpente, volta ao ponto de partida, esperando-se que volte a surpreender, como há 28 anos, como teatro de vanguarda, com um cenário improvável, um guarda-roupa tão atrevido quanto espalhafatoso – com produtos que hoje fazem parte da economia circular – com luz e sombra, o cheiro a vela queimada, um inusitado número de actores em palco, sons variados. E com imenso burburinho no meio cultural de então.

O rasto de A Grande Serpente está por todo o lado: no pessoal cultural que conseguiu fascinar, estimular e formar, abrindo para bastantes um horizonte profissional que se veio a confirmar. A lista de gente que vingou nas artes e na cultura é considerável – à luz e à projecção de Guimarães no eixo cultural. Citam-se nomes de artistas nados e criados na ODIT e que hoje emergem no panorama cultural do burgo e do país: Vítor Hugo Pontes, Cristina Cunha, João Melo, Luís Gonzaga, Joana Antunes, António Lopes, Alberta Lemos, António Leites, Sérgio Martins, Eduardo Silva, Carlos Rego, Ana Moreira, Sofia Escobar, Francisco Leite, Marta Carvalho, José Paredes e Luís Almeida.

“Mudou a cidade e a sua vocação para participar de forma activa no contemporâneo”.

A ASMAV – Associação Artística Vimaranense – elaborou esta lista para vincar que, “passados quase 30 anos, muitas águas moveram o moinho, a semente plantada não deixou de crescer e guiar a vida artística de muitos daqueles jovens”, afinal, “todos cúmplices de um primeiro momento revolucionário que mudou a cidade e a sua vocação para participar de forma activa no contemporâneo”.

Recorda que a ODIT, teatro Oficina, “durante mais de oito anos realizou parcerias com projectos em Espanha e no Brasil, oferecendo sempre oportunidades de formação aos jovens vimaranenses”. O seu contributo para “uma memória e um imaginário artístico de elevado nível na pesquisa e na produção”, permitiu que o imaginário teatral de Guimarães se rendesse a Moncho Rodriguez, um brasileiro que foi o timoneiro desta revolução no teatro vimaranense, ligado ainda a mais produções, em espectáculos como As Velhas, Cerimónias, Ópera do Lixo.

A Grande Serpente… surpreendeu pela sua plástica, adequada a um cenário de ruínas em que vivia a antiga Fábrica de Couros. A envolvência do cidadão consumidor cultural com os actores cidadãos, foi uma espécie de choque despertador para que, a seguir, a ODIT investisse na formação para jovens actores, bailarinos, cantores, ainda, hoje, “profissionais que se destacam no panorama nacional das artes cénicas”.

Decorria 1994 e A Grande Serpente ia-se representando em forma de treino, antes da apresentação pública, usando as instalações do Palácio de Vila Flor, ainda não reabilitado, e que servia também a Universidade do Minho.

Francisco Teixeira, vereador da Cultura desde 1993, lembra o seu papel na história, pelas “suas visões inquietas” e oferece respaldo e suporte político e técnico ao desígnio que Moncho Rodriguez havia de escrever em Guimarães, à sombra da ODIT que “rapidamente conquista jovens interessados numa experiência de transformação social pela arte”.

O facto de cerca de 300 jovens terem participado nesta experiência teatral, permitiu que A Grande Serpente se tornasse numa obra colectiva, um bom exemplo do teatro comunitário em Guimarães que haveria de se perder pela profissionalização de estruturas e toda a sorte de agentes culturais. Para uns ficou a paixão, o deslumbre, o desafio, a experiência; para outros ficou o emprego remunerado e uma profissão que mantêm.

Em 2022, Francisco Teixeira, agora, na ASMAV, acredita que o regresso de A Grande Serpente é um desafio bem vivo e do presente. Tudo continua válido na montagem do espectáculo, a metodologia que estimula o despertar de criatividades, impulsos de criação e arte, riscos, ousadias necessárias para o despertar do que parece oculto e politicamente correcto.

E sobretudo, a oportunidade e vontade de acabar “com gestos anestesiados, o teatrinho dos certinhos, viciados em agradar sem mais nada a propor”.

A Grande Serpente “pode dar couro e mudar de couro”, revelando “novos actores nos novos tempos, que façam espectadores vibrar e viver a arte por mais de 30 anos de vanguarda”.

“Guimarães precisa urgentemente de renovar a sua capacidade criativa propondo outras vanguardas”.

Francisco Teixeira, afirma que “Guimarães precisa urgentemente de renovar a sua capacidade criativa propondo outras vanguardas, novos Couros são sempre precisos para que possamos renovar a vida” – defende.

📸 A Oficina

© 2022 Guimarães, agora!


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